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A música de Lee Perry entrava por um dos ouvidos de Ethan Higbee e não saía pelo outro. Desde a faculdade, o cineasta americano sonhava se encontrar com o mitológico produtor jamaicano e convencê-lo a deixar que documentasse sua trajetória, que se confunde com o próprio surgimento do reggae, estilo que Perry ajudou a moldar, com genialidade e excentricidade, entre os anos 1960 e 70. Por isso, quando a hora chegou, ele parou na porta de um restaurante chinês em Londres, em 2005, respirou fundo, tomou coragem e fez seu papel. - Eu estava bem nervoso, pensando que aquilo tudo era uma loucura - admite Higbee, sobre o encontro marcado pelo próprio Perry, depois de várias tentativas frustradas. - Ele estava numa mesa enorme, reunido com a família, e eu era o único ali que não era seu parente. Depois de alguns minutos de puro constrangimento, me apresentei e consegui sentar-me ao seu lado. Então, comecei a falar sem parar, dizendo que sonhava fazer um filme com ele havia mais de dez anos. Para surpresa de Higbee, o arredio Perry digeriu bem a lábia do diretor e aceitou fazer o filme. Seis anos depois, o resultado daquele encontro está em cartaz nos Estados Unidos. Escrito e dirigido por Higbee e seu amigo Adam Lough,"The Upsetter" mostra a história de uma das mais incríveis figuras da música. Narrado pelo ator Benicio Del Toro, outro fã de Perry, o documentário revê a história do genial produtor de aparência macunaímica que, no lendário estúdio Black Ark, em Kingston, nos anos 1970, forjou as bases do reggae moderno, produzindo alguns dos principais nomes do gênero, inclusive Bob Marley, a quem ensinou tudo e mais um pouco. Endeusado em fronteiras além-reggae por nomes como Paul McCartney, The Clash e Beastie Boys, entre muitos outros, essa lenda viva e ambulante, de 75 anos, raramente dá entrevistas filmadas. Por isso, as lendas o cercam como os espíritos que diz ver de vez em quando. Uma delas diz que Perry, que durante muito tempo foi um voraz consumidor de rum e cigarros alternativos, costumava soprar a fumaça destes em cima das fitas para que elas ficassem "mágicas". A outra, mais famosa, conta que, durante uma crise nervosa, o pioneiro do dub - a vertente psicodélica do reggae, que influenciou decisivamente a música eletrônica - queimou o Black Ark, transformando em cinzas todo o seu rico arquivo. De fato, há todas essas lendas em torno de Perry e também o fato, indiscutível, de que ele teve um papel fundamental na evolução da música pop - afirma o diretor, que entrevistou Perry em Zurique, na Suíça, onde ele se refugiou durante um tempo, assustado com os "espíritos malignos" que circulavam na Jamaica nos anos 1980..O que tentamos mostrar no filme foi a importância dessa figura inspiradora, a partir do seu próprio ponto de vista, das suas próprias palavras. Essa opção rendeu algumas críticas ao filme após suas primeiras exibições, em festivais na Europa e nos EUA. O que se dizia é que, apesar da originalidade do roteiro e da riqueza das imagens, muitas tiradas dos arquivos do próprio Perry, os diretores não tinham conseguido dimensioná-lo corretamente, deixando de entrevistar outras pessoas que pudessem falar sobre sua real importância. Foram críticas interessantes, mas que julgamos improcedentes , garante Lough. Na verdade, entrevistamos várias pessoas ao longo desse anos: músicos, jornalistas e produtores como Roger Stefans e Adrian Sherwood, além de amigos e familiares dele. Mas, no final, decidimos não optar por esse formato batido de documentários, em que as pessoas ficam falando sem parar como alguém é genial. Achamos que Perry, com toda a sua inusitada eloquência, seria o melhor para conduzir sua própria história. Além do mais, as imagens de arquivo que ele nos cedeu são fantásticas, mostrando os primórdios do reggae, além de cenas raras dele trabalhando no Black Ark. Durante uma das cenas do filme, reproduzida no trailer que circula no YouTube, Perry aparece queimando alguma coisa na neve, o que algumas pessoas na internet interpretaram como uma alusão ao incêndio no Black Ark. Ele está queimando algumas das suas pinturas ,conta Higbee.Descobrimos que ele pinta quase diariamente, inspirado pelas suas próprias canções. Depois, quando se cansa dos quadros, os incendeia ao ar livre. Perry nos disse que considera o fogo muito rejuvenescedor. Dá para perceber. Mergulhe o cérebro na cândida e deixa absorver. É uma das únicas maneiras de ter uma experiência próxima à de ouvir Lee Perry, tema do documentário The Upsetter que, após sete anos de produção, é lançado oficialmente em 2008.. Já falamos muito do figura, e o fato é que o artista influenciou praticamente todo gênero de música depois de seu surgimento há mais de 40 anos atrás. Estou longe de ser dubhead, mas ele vai além de definição de estilos. E nessa personagem tão complexa se baseia The Upsetter: The Life and Music of Lee Scratch Perry. Apesar de ter sido mostrado em 2008 no South by Southwest Film Festival, ele ficou guardado até seu debute oficial, no dia 1o de Abril. Acontece que o seu criador, Ethan Higbee, só para achar o Mr. Perry demorou um ano, até encontrá-lo num restaurante chinês em Londres. Daí até a etapa de liberação de direitos das músicas e a gravação da narração com Benicio Del Toro, foram 7 anos. O filme de 90 minutos segue a visão do artista, por mais excêntrica que ela seja. Eles decidiram descartar as mais de 20 entrevistas feitas e usar tudo que saia da boca do Upsetter. Muita imagem com pouca qualidade de décadas atrás, como filmagens feitas depois do incêndio na Black Ark, em 78. A produção foi tão trabalhosa que Higbee, apesar de ter feito outros documentários musicais, como o The Carter, do Lil Wayne, disse que “parece que foi a única coisa que fiz na vida”. Segundo alguns críticos que viram o filme, incompleto, em festivais, há, sim, uma vasta porção de material nunca visto do artista, mas que peca em não mencionar Adrian Sherwood nem Mad Professor. Ou em detalhar a fase dele depois do incidente no Black Ark, fase em que teve problemas com álcool, dando a impressão de que ele não fez nada entre 1980 e 2000, sendo que ele lançou ao menos 20 álbuns – sejam eles coisas novas, antigas fitas remixadas ou parcerias, como no caso do Meets Bullwackie in Satan’s Dub. De qualquer modo, independente das críticas feitas ao filme mesmo antes de seu lançamento oficial, não tenho dúvidas de que é um filme que deve ser visto por todos os amantes de reggae,de punk,de rock e de ácido..
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