domingo, abril 01, 2012
THEODOROS BAFALOUKOS
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Theodoros Bafaloukos escreveu e dirigiu o Rockers (It´s Dangerous) o filme que, sozinho, tornou a Jamaica e o reggae interessantes para caras brancos desencanados, seus filhos maconheiros e um bando de punks ingleses famosos com guitarras. Hoje, Ted (na foto com o baterista e astro do filme Rockers,Leroy Horsemouth Wallace) não é tão recluso quanto é remoto, passando seu tempo em sua casa de infância na isolada ilha grega de Andros. Mais de 30 anos depois, fizemos uma longa viagem para isso, a primeira entrevista impressa da sua vida. Além de escrever roteiros e fazer filmes,Ted Bafaloukos fez a direção de arte para três diretores ganhadores do Oscar (Barry Levinson, Errol Morris e Jonathan Demme) e ajudou a conceber inúmeros clipes famosos, inclusive aquele do Aerosmith em que a Alicia Silverstone de camisa de flanela salta de bungee-jump de um viaduto e depois mostra o dedo do meio pro Stephen Dorff. Após um breve tour por sua casa—centenas de pinturas e imagens de detalhes de partes de cobra espalhadas pelas paredes—ele nos fez sentar e começou a folhear alguns álbuns antigos de fotos. Muitos deles eram da época em que filmou Rockers. Como você verá, é um tesouro escondido de alegria arquivada. Vice: Como você foi parar na Jamaica? Theodoros Bafaloukos: Fui para lá em 1975 como fotógrafo freelancer da Island Records com um amigo, um jovem da cena do reggae. Tiramos fotos dos rostos da ilha. Foi interessante e empolgante. Também foi engraçado porque me prenderam como um espião da CIA. Nossa! O que aconteceu? Eu tinha ido a uma estação de rádio para falar com uma pessoa da comunidade. Eu queria pedir a ele equipamento e ajuda para filmar um documentário—que era o que eu queria fazer a princípio. Eu estava no carro com meu amigo, que dirigia, quando de repente, do nada, um homem enfia a mão pela janela, agarra um caderninho do meu bolso do peito e corre para dentro do prédio gritando “CIA, CIA!”. Saí e tentei correr atrás dele, mas, quando voltei, meu amigo e o carro tinham desaparecido. Fiquei assustado. Me vi totalmente abandonado, cercado por estranhos. Depois meu amigo disse que ficou apavorado. Estou falando de uma época em que o medo reinava e todo mundo andava assustado. Quando a polícia chegou? Dois jipes apareceram do nada, cheios de policiais—alguns de uniforme, outros parecendo seguranças. Os mais durões saíram do veículo com Uzis e me prenderam. Eles me colocaram no jipe e desfilaram pelas ruas em baixa velocidade para que todos vissem que eles tinham prendido um agente da CIA! Me levaram para a delegacia, onde ficou óbvio que não tinham ideia do que fazer comigo. Então me levaram até outro cara, que me entrevistou. Entrevistou? Interrogou. Quando entrei na sala, o interrogador estava sentado atrás de uma mesa com o meu caderno ao seu lado. Fui até a mesa, peguei o caderno e coloquei no meu bolso. Corajoso. O que tinha no caderno? Os endereços de todas as pessoas que eu tinha conhecido na ilha, a maioria músicos. Eu tinha prometido mandar as fotos pra eles quando eu voltasse para os EUA, o que eu fiz. Então eles te deixaram ir imediatamente? Depois que eu coloquei o caderno no bolso o cara não falou nada, nem se mexeu. Respondi as perguntas, mas ele nem sabia o que me perguntar. Ele provavelmente tinha feito algumas ligações e percebido que era um engano. Pelas suas fotos dessa época você parecia mais como o ator principal de um pornô zapatista do que um agente da CIA. Por que, como é um agente da CIA? [risos] Eu tinha um passaporte grego, o que me tornava ainda mais suspeito. Eles o pegaram e me mantiveram lá pelo que pareceu uma eternidade. Outro cara veio me interrogar, mas de novo não deu em nada. Eram 10 ou 11 da noite quando de repente esse cara branco aparece e diz, “Vem comigo”. Eu disse, “E o meu passaporte?”, e ele disse, “Sai daqui, cara”. Então eu fui embora. Fui até a casa onde eu estava ficando e encontrei todos eles ali: meu amigo, Augustus Pablo, a turma toda. Todos eram mais novos do que eu. Eles estavam assustados e olhando para mim como se eu tivesse voltado dos mortos. Simplesmente disseram, “Desculpa, eles vêm te matar hoje à noite e a gente não quer ficar aqui”. Eles estavam tirando uma com você? Não, não estavam. Coisas assim aconteciam o tempo todo. Esse é um retrato da Jamaica completamente diferente do que você apresenta em Rockers. Tinha essa ideia de que tudo estava numa boa, por causa do sucesso de Bob Marley. Mesmo para o reggae, a realidade era outra—bem mais cruel. E mais cruel ainda para um cara branco no meio disso. Morei lá dois anos antes de começarmos a filmar. Aqueles jamaicanos que moravam nos guetos de Kingston eram pessoas inocentes no dia a dia e era exatamente isso que eu queria capturar no filme—um retrato mais realista de quem eram ou do que realmente gostariam de ser. Algo como Robin Hood. A Jamaica era um mundo de fantasia onde a realidade como conhecíamos não podia existir. Como assim? Eles moravam em um cenário que os separava do mundo real. Você não tinha nenhum lugar pra ir, raramente tinha alguém pra chamar de “pai”. Eles eram homens simples que tinham relacionamentos com mulheres. Não existiam estruturas familiares de verdade. Na maioria dos casos, as crianças não eram reconhecidas, e mesmo que você crescesse com uma mãe, não tinha nada pra te apoiar, porque era dureza mesmo. Era praticamente impossível sair qualquer coisa daí que não fosse tolerância à violência, uma mentalidade de gangue entre a molecada enquanto o resto das pessoas batalhava pra ganhar a vida. Mas é importante perceber que muitas pessoas conseguiram viver sob essas condições de forma pacífica e produtiva. Isso era muito legal. Como era a Jamaica para alguém de Andros e Nova York? Bem exótica. Uma experiência extraordinária. Mais extraordinária do que Nova York? Você veio desse vilarejo na Grécia. Olha, eu mudei de Andros para Atenas aos 17 anos, saí dessa casa, dessa mesma mesa onde estamos sentados agora. Tive a sorte de ter um pai de cabeça aberta que me aconselhou—sem me pressionar—a ir para a Rhode Island School of Design, uma das melhores faculdades de design do mundo. Quando foi isso? Isso foi entre 1964 e 1968—a era do sexo, drogas e rock ’n’ roll. Depois da faculdade voltei para a Grécia durante a Junta Militar, para servir o exército. No meio tempo me casei com a Eugenie—esse ano comemoramos 39 anos de casamento. Depois da minha baixa do exército fomos para Minnesota e depois arrumamos nossas coisas e fomos para Nova York. Viramos boêmios e moramos em um prédio abandonado em Tribeca. Como vocês ganhavam a vida? Eu fazia vários bicos. A Eugenie trabalhava na indústria têxtil como designer. Eu basicamente me mantinha ocupado fazendo consertos no prédio onde morávamos e pegava serviços estranhos. Trabalhava como fotógrafo, até que a revista New York me encarregou de fotografar um jovem jamaicano no Tropical Club, um clube vagabundo no Brooklyn. Fui lá e de repente o Augustus Pablo apareceu tocando melódica. Fiquei de queixo caído. Ele foi o primeiro que conheci. Naquela época, o que você sabia sobre reggae? Eu escutei Bob Marley pela primeira vez quando ele estava com os Wailers em 1974, totalmente por acaso. Eugenie e eu estávamos indo para Minnesota e paramos por alguns dias para visitar uma amiga em Chicago. Uma noite ela disse, “Vamos para um clube com um som interessante”, e era o Bob Marley. Foi um show inacreditável. Que tipo de música você gostava? Vários tipos. Principalmente de rock e R&B. Minha esposa tinha dois irmãos que tocavam guitarra. E muito blues, claro. Se meu coração tivesse espaço para só um tipo de música, seria blues. Tudo começou de um jeito esquisito, através da minha paixão por rebetika. Rebetika é a forma grega de blues. O que aconteceu com a rebetika e o blues aconteceu com a música de Bob Marley também. Rocksteady e ska já eram conhecidos, mas quando escutei Augustus Pablo percebi uma coisa muito profunda, algo além e acima do que você ouvia. O reggae tinha profundidade musical e uma grande variedade de sons. Se você for ver o reggae entre o final da década de 60 e o começo da de 70, você não vai acreditar que foi tudo feito pelas mesmas 20 e poucas pessoas nos estúdios de Kingston. Literalmente. Todos esses gêneros emergiram simultaneamente e a partir dos mesmos músicos—ska, rocksteady, reggae, rocker, os dubs. Eram uma coisa só? As pessoas que começaram o ska também começaram o reggae—não mais do que dois ou três bateristas, guitarristas e baixistas. A qualidade dos cantores se tornou crucial, a habilidade deles em inspirar os músicos. O som estava lá, a única coisa que faltava eram os pequenos discos de 45 rotações que tinham que ser prensados o mais rápido possível—em duas horas, até em meia hora—para que os custos fossem mantidos os mais baixos possíveis. Essas gravações eram feitas em estúdios rudimentares, as faixas novas tocadas em grandes bailes ao ar livre aos finais de semana, viajando em vans lotadas de amplificadores e alto-falantes gigantes. Essa música tinha como objetivo o consumo imediato. Mais tarde eles começaram a gravar discos ao vivo e vendê-los em apenas algumas barracas e lojas. Era assim. E eles venderam mais no Reino Unido e menos nos EUA. O Reino Unido sempre foi mais aberto ao reggae. Sim, e o fato da Jamaica ter sido uma colônia britânica influenciou isso. Era mais fácil para um jamaicano ir para a Inglaterra do que para os EUA, por causa de passaporte e questões de visto. Eles também tinham absorvido o reggae em um nível maior. Bandas da 2 Tone, Selecter e outras foram todas muito importantes. Também acredito que a música punk deve muito ao reggae. Eles tinham a mesma postura. Por isso que tinham covers punk de faixas de reggae. Tudo isso em uma cena estritamente jamaicana? Era uma espécie de gueto? Muito localizada. Você poderia chamar de gueto, mas na verdade não era. Guetos na Jamaica eram bairros de quarteirões construídos em torno de pátios, como Atenas nos anos 20 e 30 ou vilas africanas. Neles havia estruturas sociais com vida própria que funcionava separadamente do contexto mais amplo, que era o governo, a polícia, o exército e o sistema judiciário. As estações de rádio locais raramente tocavam reggae. Elas tocavam soul e disco, assim como os clubes. Eles não apoiavam a própria cena? Não era a cena deles, porque ninguém ganhava dinheiro com aquilo. Só alguns caras que eram donos dos sistemas de som faziam algum dinheiro. Na verdade, só duas pessoas estavam por trás da maioria dos primeiros lançamentos—Coxton Dodd [do selo Studio One] e Duke Reid [do selo Treasure Isle]. Quando o gênero começou a ganhar reco-nhecimento internacional, as coisas começaram a mudar, e lá pelo meio da década de 70 reggae como conhecíamos desapareceu. Era impossível para tão poucas pessoas estarem em tantas bandas. Só existiam músicos para cinco ou seis bandas. Bob Marley pegou alguns dos melhores. Os outros começaram a se mudar para Nova York e Londres. No final dos anos 70, não tinha sobrado ninguém. Você poderia dizer que tudo terminou com o One Love Peace Concert em 1978. É interessante Rockers não ter muitos dos ingredientes típicos jamaicanos, como palmeiras e praias. Por que isso? Isso foi de propósito. Meu objetivo com o filme era muito simples: desde o começo pensei nele com uma música, então a questão não era o que incluir, mas sim o que eu deixaria de fora. Eu tinha que esco-lher. Você não pode encaixar tudo num filme. Minha avó, que nunca foi à escola e era uma mulher extraordinária, ficava me vendo dese-nhar quando eu era criança e dizia, “Isso está muito carregado”, quando eu colocava muitos elementos. No meu caso, tentei me manter dentro de uma certa moldura e não me via como um cineasta, mas como um artista. Você tinha confiança que o seu filme seria um sucesso? Eu sentia que o filme ficaria excepcional, mas ao mesmo tempo minha mente estava focada em completá-lo. Qualquer coisa podia acontecer durante as filmagens, o que acabaria com o projeto. Um dia um moleque poderia puxar um gatilho e matar alguém—estamos falando de Kingston, um lugar onde 600 crianças foram mortas naquele ano—e isso seria um desastre completo. Teria sido o fim. Uma grande parte da população foi assassinada, na maioria das vezes sem motivo algum. Por que motivo, exatamente? Guerra de gangues, mas acredite você ou não, a lei não desencorajava ninguém porque havia armas em toda parte. Existia um desejo por armas, era bacana andar com uma, e também existiam políticos que andavam com verdadeiros exércitos e caras armados. Os meninos de 11, 12 anos eram os que davam mais medo—não dava para saber quais seriam as reações deles, eles podiam te matar num piscar de olhos. Acho que tive muita sorte em terminar esse filme. Todo dia eu temia que alguém da equipe ou um ator fosse assassinado. Você diria que a cena lembra o hip-hop contemporâneo? Não muito, porque as pessoas que viviam lá e faziam música morriam de medo de armas. Eles não tinham armas. Eles não eram idiotas, sabe, sofriam com as armas. O que me faz ver Bob Marley como um herói é o fato dele ter voltado e tentado ajudar a estabelecer algum tipo de ordem. Claro, ele não podia resolver tudo, e existiam muitas reações das pessoas nas ruas. Mas esse esforço para promover uma trégua e a paz cessou a violência das gangues por um ano. Daí começou de novo, e antes do final do ano ambos os líderes das gangues estavam mortos. Aí a cocaína entrou na história. Ela substituiu a maconha? O fumo continuava lá, mas foi a cocaína que matou e devastou. Tinha muito dinheiro envolvido, as pessoas ficaram agressivas e começaram a matar umas às outras. Mas você também podia conhecer as pessoas mais amáveis e interessantes—uma fábrica de expressões comprimida em um lugar tão pequeno. E eu não estou falando de Kingston. As casinhas construídas em bloco parecem mais com favelas do que com guetos. Eram em lugares assim que todos os músicos rasta viviam. Quem são os rastas exatamente? Reggae e rasta andam juntos, eles viraram uma coisa só. Eles se tornaram o motivo para que todos os caras jovens de Kingston pudessem dizer, “É, agora eu tenho uma bandeira, eu tenho uma nação, um Deus, e então vai se fuder, branquelo. E você também, bal-die [careca, jeito rasta de chamar negros não-adeptos]”. Marcus Garvey foi uma figura chave para isso. Garvey tentou organizar o povo negro e persuadi-lo a voltar para a África. “O homem negro não é um homem branco, o homem negro pertence à África.” Então o racismo predominava. Sem dúvida. Eles diziam para mim, “Grego, não queremos nada de você porque qualquer coisa que você nos der não é sua para dar. Essa é minha própria vida, e minha própria vida é negra e nunca pode melhorar com a sua preocupação. Eu quero cuidar da minha vida, controlá-la, então eu irei à África, que é cheia de pessoas negras, e serei parte desse outro mundo, dessa vida negra”. Existia racismo até entre eles, entre pessoas com a pele mais escura e aqueles com pele mais clara, entre os que estudaram e que não estudaram. Como você conseguiu que os músicos fizessem papéis no seu filme? No final, você não filmou um documentário. Eu morei com eles por mais de dois anos e demorou um pouco para convencê-los. Não era algo que podia ser imposto. O interessante do filme é que tudo foi feito ao contrário: primeiro escolhi o elenco, depois escolhi as locações, e no final escrevi o roteiro. Todos eles fazem papel de si mesmo. O que eles dizem é bem simples, até o argumento é bem enxuto. Eu tinha morado na ilha há algum tempo, então não queria filmar um documentário—qualquer um poderia fazer isso. Eu queria fazer um filme sobre a música da Jamaica e incluir todo mundo que estivesse por lá, exceto o Bob Marley. Por que você não queria ele no filme? Porque ele já era uma grande estrela e teria virado um filme sobre o Marley. Ele certamente eclipsaria os outros músicos, que eram tão bons ou melhores que ele, e eu não queria isso. Não tenho nada contra o Marley, mas realmente acredito que o Burning Spear era ótimo, e o mesmo vale para os outros músicos do filme. Por motivos diferentes. Consegui com que todos os bons músicos participassem e acho que captei a música em seu melhor momento. Como foi a recepção ao filme? Espetacular. Foi exibido pela primeira vez no Los Angeles Film Festival num cinema lotado onde cabiam 800 pessoas. Teve outra exibição no final do festival porque tinha muita gente que queria assistir. Em Cannes foi exibido na mesma noite queApocalypse Now do Francis Ford Coppola e teve um incidente com milhares de pessoas, policiais a cavalo e tropa de choque. Tinha gente que queria entrar, e os ingressos estavam esgotados, e a desordem tomou conta. Saiu em tudo quanto é primeira página no dia seguinte. Fiquei intrigado pelas resenhas na França, até as dos jornais conservadores. A primeira frase no Le Monde era “Rockers não é um filme, é um trabalho de arte. Tão bom que é difícil de acreditar, ainda assim é verdade”. A que você atribui esse sucesso? Reggae tinha virado um gênero internacional de música, como samba, rumba e música cubana. Tinha ido um passo além, alcançado público no mundo inteiro pela primeira vez. Imediatamente após a exibição, começaram a me tratar como algo intrigante. Recebi propostas de Hollywood, mas eu estava com a mente em outras coisas. Você ganhou dinheiro com o filme? Por mais incrível que pareça, não. Nada. Algumas pessoas ganharam muito só com a música. Tivemos problemas enormes depois, quando o filme acabou. O que aconteceu? As coisas ficaram confusas. Ninguém tinha experiência, nem o produtor nem eu. Ninguém tinha feito nada parecido com aquilo e eles não tinham ideia do que fazer. Achavam que era só um filmezinho e não se preocuparam em se envolver no processo. O processo de promover o filme? Eles promoveram o filme, mas acabaram de mãos vazias. Não sabiam como capitalizar em cima dele. Por outro lado, mesmo que soubessem, acho que teria acontecido a mesma coisa. Acredite, agora, depois de 30 anos, comecei a fazer dinheiro com o filme através do DVD. Depois de todos esses anos, acabei de receber um cheque com uma pequena quantia... uma quantia bem pequena. É ridículo. Também não ganhei nenhum dinheiro com a música. Eu ia até a Tower Records em Nova York e via pilhas de CDs e pensava que outras pessoas estavam ga-nhando dinheiro que era meu. Eu sou o produtor da trilha sonora. Quanto custou o filme? Cerca de US$ 500.000. Conheci esse produtor, um cara jovem picado pelo bichinho do cinema, e trabalhamos juntos. Mostrei a ele algumas filmagens e ele disse, “Vai em frente e faça o que você quiser”. Infelizmente ele não está mais vivo. Você manteve contato com as pessoas do filme? A maioria deles está morta. Metade foi assassinada. Dirty Harry, por exemplo, foi morto em Nova York. Ele ficou preso dois anos, provavelmente por causa de drogas ou de alguma briga. Não sei direito, não perguntei. Seis meses depois que ele saiu da cadeia alguém o matou. Mesma coisa com Natty Garfield. Em contraste, um amigo que eu dava como morto na verdade está vivo. Nos falamos pelo telefone recentemente. Eu pergunto o tempo todo, “Aquele cara ainda está vivo, aquele outro morreu?” A maioria deles não está mais na Jamaica. Você fez muitos amigos? Fiquei lá por muitos anos, eu tinha que fazer amizades, colocar todas as cartas na mesa. Eu não tinha muitos, mas queria que todos soubessem quem eu era. Tinha uma época em que as pessoas da Jamaica vinham até nossa casa em Nova York todos os dias. Morávamos perto do Brooklyn, onde os jamaicanos também moravam, mas quem quer que fosse que viesse para a cidade para tocar dava uma passada lá. Eles respeitavam o que você estava fazendo? Todo mundo acha que eu ganhei uma baita grana. Bom, nem todo mundo, mas é difícil convencer as pessoas de que eu não ganhei um centavo. Se ouvissem o título hoje em dia, pensariam que não é um filme sobre jamaicanos. O termo Rockers era muito popular durante o auge do reggae. Existia esse som novo, muito sofisticado com novos esquemas percussivos. De certa maneira, Sly Dubar introduziu seu próprio ritmo, mais forte. Você ouvia muito “rock steady, rockers”. O produtor escolheu o nome. A arte é minha, assim como o cartaz do filme. Fiz sozinho porque não tinha ninguém para fazer. Quem escreveu o roteiro? Eu escrevi. Você fumava um monte de maconha na época? Claro. E como era a maconha jamaicana? Horrível. Ainda pior que a de Nova York...
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FONTE:
http://espacoreggae.webnode.com.br/
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